Por Heriberto de Souza
A maioria dos professores que conheço, de todas as áreas e níveis de ensino, é unânime em afirmar que uma parte considerável de seus alunos é incapaz de responder quesitos de uma prova, mesmo os de testes objetivos (os famosos exames de marcar "X"), porque não consegue entender o enunciado das questões. Muitos estudantes – dizem os professores –, no decurso das aulas, demonstram saber bem o assunto exposto, mas quando cobrados em avaliações escritas, como ocorrem em todas as escolas, universidades e nos principais exames públicos, como o ENEM, por exemplo, o resultado é desastroso.
Por que isso se dá?
Não é preciso ser especialista no assunto para responder a esse questionamento. Eles não conseguem, a grosso modo, dar uma resposta às questões porque são incapazes de decodificar a escrita, um pré-requisito para a aquisição da leitura, ferramenta indispensável para ascensão tanto social quanto profissional de qualquer indivíduo. Dito de outra forma, nossos alunos não sabem ler.
É evidente que não me refiro à leitura de textos simples, desses que, corriqueiramente, nos deparamos em situações banais do cotidiano, presentes em letreiros, cartazes, manuais de instruções, letras de canção, recadinhos do coração, mensagens de WhatsApp ou Facebook… Falo daquele tipo de texto cobrado pelo saber formal, que se adquire nas escolas e nas universidades, de escrituração mais complexa, cuja tecitura requer períodos mais longos, subordinações mais sofisticadas, vocabulário preciso… É essa escrita que o aluno deverá dominar se quiser continuar seus estudos e fazer a diferença, enquanto profissional, num mercado de trabalho cada vez mais competitivo.
Adquirir essa competência, no entanto, não é tarefa fácil. Requer conhecimento específico, disciplina, desejo de aprender…. Aliás, qualquer que seja a aprendizagem, ela é sempre trabalhosa.
Em geral, é no ambiente escolar que adquirimos esse saber. Buscamos a escola para compreender coisas difíceis que exigem orientação profissional para se alcançar um saber específico e necessário ao exercício de determinadas competências. É bem verdade que a escola pode, no entremeio dessa finalidade, desenvolver outras habilidades, mas todas elas serão coadjuvantes no processo educativo.
Escola não é parque de diversão
A leitura formal desapareceu da sala de aula. Sua prática carnavalizou-se, ou seja, misturou-se a elementos diversos e informais, e suas regras ou padrões, comumente seguidas, foram subvertidas ou postas de lado em favor de uma leitura mais livre, interpretativa, privilegiando-se mais o texto artístico-literário em detrimento de outros mais sisudos e enfadonhos.
Nada contra essa prática. Eu mesmo faço isso constantemente em classe, mas não me descuido em nenhum momento de exigir de alunos a leitura daquele texto que, pela sua natureza instrumental, requer o domínio expressivo das estruturas formais da língua escrita, padronizada pela gramática e cobrada por bancas examinadoras, responsáveis pela abertura de milhares de concursos em todos os estados brasileiros.
Negar isso é prestar um desserviço não somente ao alunado, mas também à sociedade brasileira, que necessita de uma formação educacional de melhor qualidade para promover o progresso do país em todos os sentidos.
Negar isso é sabotar a formação do aluno e, consequentemente, excluí-lo, por incompetência, do processo seletivo profissional com o qual terá que se deparar logo após a conclusão de seus estudos.
Assim pensando, preparei três dicas, agora voltadas para a leitura, que servirão de orientação para quem quer se transformar em um bom leitor. Em publicações anteriores, apresentei "Cindo dicas para quem quer começar a escrever bons textos". Para lê-las, é só clicar no link ao lado.
1. Consulte dicionários e gramáticas
Adquira o hábito de consultar tanto a gramática quanto o dicionário todas as vezes que se deparar com dificuldades para entender determinadas frases ou palavras do texto que esteja lendo. Ao consultar e anotar o significado de um vocábulo que você desconhece, incorpore-o ao seu vocabulário pessoal usando-o, de imediato, em sua fala cotidiana. Por exemplo, se consultou o Aurélio para descobrir o significado de inexorável, na primeira oportunidade que surgir, construa uma frase do tipo:
"A morte é inexorável; dela, nenhum de nós escapará".
Agindo assim, em breve, essa nova palavra lhe será tão familiar quanto o vocábulo casa, porque, pelo uso constante que fizer dela, passará a integrar seu repertório vocabular, aquele que você faz uso diariamente para se comunicar.
E por falar em inexorável, você conhece o significado dessa palavra? Satisfaça sua curiosidade: vá até o Google, descubra, anote e use!
2. Faça um resumo mental daquilo que leu
Conforme escrevemos em "Cinco dicas para quem quer começar a escrever bons textos", um texto é uma unidade linguística. Dito de outra forma, não importa o tamanho que ele venha ocupar na folha de papel ou na tela de seu computador, ao terminarmos de lê-lo, teremos que o resumir em poucas palavras e dele extrair apenas um único significado.
A princípio, pode parecer difícil, e é mesmo, mas com um pouco de prática e uma boa dose de paciência, fará isso em um piscar de olhos.
Quando um amigo nos conta uma história, por mais longa que seja, não somos capazes de entender e passar adiante, de forma sucinta, sem muito detalhes, essa mesma história para uma outra pessoa?
- Claro que sim!
Basicamente, a diferença entre o texto escrito e o oral reside no modo de estruturação da mensagem, na seleção e uso dos recursos expressivos, ou seja, na maneira de arrumar as palavras e as frases ora no papel ora na fala com fins de se comunicar algo. Apenas isso. Treine, e você conseguira.
3. Ouça o texto
Conheço muita gente que somente é capaz de entender o que está escrito se ler o texto em voz alta.
Faz pouco tempo, professores convidavam alunos para ler textos em voz alta em salas de aula. Essa prática, infelizmente, desapareceu, mas ela é absolutamente louvável e deve ser incentivada. Ler o texto em voz alta ajuda-nos a compreendê-lo melhor. Quem conhece um pouco de teatro já ouviu falar em audição. Vários atores e atrizes, publicamente, passam o texto em voz alta para extrair deles vida, sentir sua cadência sonora, descobrir ritmos que, em sua forma, muito revelam o teor daquilo que está escrito. Isso é um excelente exercício para se dar ouvidos à voz amordaçada no papel. Quando leio um texto e não consigo, de imediato, entender seu significado, faço isso para descobrir se o problema está em mim, o leitor ouvinte, ou em quem o escreveu.
Se a voz advinda daquelas palavras deitadas no papel não chegar aos seus ouvidos de forma rápida e segura, é porque o texto está " gaguejando", apresentando enorme dificuldade em "falar". O problema, decerto, não é seu, mas de quem o escreveu.
Relaxe e procure um texto mais digno de ser lido, porque quem escreve de qualquer jeito certamente merece um leitor qualquer. E esse não é o seu caso.
Bem, meus amigos, essas foram as recomendações que eu reservei para hoje. Quando comecei a escrevê-las, pensei em apresentar, conforme fiz em um post publicado aqui anteriormente, mais cinco novas dicas, porém desisti por uma boa razão: estudos demonstram que textos com mais de mil e quinhentas palavras cansam o leitor, sobretudo o de Internet. Como já estou me aproximando desse limite recomendável, deixarei novas dicas para uma outra publicação.
Até a próxima conversa. Não deixem de visitar o meu blog em meu site. E se gostarem, não se esqueçam de compartilhar tanto este quanto aqueles textos postados lá também.
Obrigado!
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